Transgênicos: entre a pesquisa e o mercado
Não há como impedir o avanço da ciência. Tentar fazê-lo seria um contra-senso num mundo carente de novas soluções para combater velhos problemas, como a fome, por exemplo. E a biotecnologia e a engenharia genética são ramos da ciência que, velozmente, estão nos mostrando novos horizontes e possibilidades. No entanto, como toda ciência de ponta, há de se pesar as conseqüências de seu uso e preservar sua finalidade humanitária.
No Brasil, que ora assume uma posição de destaque no cenário internacional justamente por buscar uma coalizão de forças para lutar contra a fome no mundo subdesenvolvido, essa polêmica ganhou novos contornos com a discussão sobre a medida provisória que liberou o uso da soja transgênica.
Não há como lançar mão, neste momento, de estudos absolutamente confiáveis do uso de organismos geneticamente modificados (ogms), os tais transgênicos, sobretudo para as características ambientais brasileiras. Não que eles não existam: ao contrário, o mundo vive uma corrida sensacional para estudar e aperfeiçoar esses produtos. Em muitas nações, com realidades diferentes de flora e fauna, há trabalhos científicos que podem assegurar razoável grau de segurança no uso dos transgênicos. Mesmo assim, mais pesquisas sempre serão necessárias.
No Brasil, no entanto, a realidade prática se antecipou à necessidade legal e segura. Quando milhares de agricultores, sobretudo na região sul, clandestinamente utilizaram sementes de transgênicos no plantio, comprometendo toda uma safra de soja, colocaram a nação diante do dilema de escolher entre o fogo e a frigideira. Uma metáfora que, neste caso, pode até ser tomada literalmente: ou a colheita seria queimada ou viraria óleo e outros produtos derivados de soja, disponíveis ao consumidor.
Para qualquer das alternativas, há muitos argumento pró e contra. O fato é que podemos considerar viável, com a MP que liberou os transgênicos dessa safra, um consumo seguro para a população diante das pesquisas que já foram e estão sendo feitas no mundo todo.
Mas há de se ter mais cautela quanto se coloca em questão a liberalização indiscriminada do uso de trangênicos, tanto no aspecto científico quanto legal. Nossa legislação é clara ao estabelecer a necessidade de estudos de impacto ambiental, como muito bem colocou a ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, no curso da discussão sobre a MP.
Desta vez, inevitavelmente, a balança pendeu para o mercado. Foi assim prorrogado, por algum tempo, um debate que deve ser feito com a comunidade científica, com os agricultores e a sociedade em geral, pautado em pesquisas rigorosas. É preciso, antes de tudo, dar ao povo e ao consumidor, tendo informação confiável para nortear sua decisão, a chance de escolher o que é melhor para o país, sim, mas principalmente ao seu consumo, como indivíduo e cidadão.