A luta pelo banimento do amianto é maior que as investidas das industrias deste setor
Em editorial publicado na terça-feira, 24, a Folha de S. Paulo criticou o “Sindicalismo de Resultados”, dizendo que a saúde dos trabalhadores não é mais prioridade das entidades de profissionais, que estariam recebendo verbas da indústria do amianto para defender o “uso responsável” dessa substância cancerígena. Não se pode generalizar, nem todo Sindicato defende o amianto; tampouco, nem todos os sindicatos adotam ou concordam com a prática denunciada pelo jornal.
Outro ponto é que, há muitos anos, a indústria do setor tenta cooptar defensores do banimento do amianto, sejam eles sindicalistas, funcionários de órgãos públicos e profissionais de diversos setores. Em 1998, nos retiramos da Comissão Nacional Permanente do Amianto por percebermos que a defesa do uso da substância era um objetivo não só dos representantes formais dos empresários, mas também de Ministérios, outros órgãos públicos e até de sindicalistas que se posicionavam a favor da indústria.
Um ano antes, um dirigente do nosso Sindicato apresentou um documento unitário das centrais Força Sindical, CUT e CGT pelo banimento do amianto, numa conferência da CIOSL, em Bruxelas (Bélgica). Para nossa surpresa, um dirigente sindical brasileiro usou a palavra no evento para se opor ao documento. Ele estava acompanhado de um representante da indústria.
Mas, repetimos, o movimento pelo banimento do amianto é composto por outro tipo de pessoas e de entidades. Desde 1994, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região participa desse movimento. Em nossa base territorial, tínhamos empresas como a Lonaflex (empresa do grupo Fras-Le). Buscávamos informações para apoiar os trabalhadores vítimas do amianto que nos procuravam. Foi assim, que comprovamos que a máscara que a indústria fornecia para os trabalhadores não servia para protegê-los da poeira da substância. Nos Estados Unidos, a máscara era usada por pessoas que queriam se proteger durante o corte da grama de seu jardim. Denunciamos isso à Fundacentro e ao Ministério do Trabalho, que, 58 dias depois, suspendeu o certificado de autorização de uso da máscara.
Somos ainda companheiros de luta do ex-vereador de Osasco e deputado estadual Marcos Martins (PT) autor da Lei nº 12.684, de 2007, que proibiu o uso do amianto no Estado de São Paulo e que foi mantida pelo Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento, um dos fatos mais importantes no histórico dessa luta.
Também respeitamos o drama vivido pelos trabalhadores que dependem da mina de Minaçú (GO) para viver. Por isso, junto do fechamento da mina, sempre defendemos sua reconversão para que os trabalhadores possam extrair dali outros tipos de minerais, que não causem danos ao meio ambiente e à saúde humana.
Participamos ainda de diversas conferências, reuniões e comitês em que se tratava do uso do amianto, sempre com a determinação de defender o banimento, já que o uso controlado do amianto também traz prejuízos à saúde do trabalhador.
É fundamental ressaltar que a saúde do trabalhador nunca saiu de nossa pauta. Tanto é que no último dia 19 iniciamos a 29ª edição do Ciclo de Debates, evento que todos os anos discute assuntos relacionados com a saúde e a segurança dos trabalhadores (inclusive o banimento do amianto) e que raríssimas vezes foi divulgado pela Folha de S. Paulo.
Acreditamos nessa luta, que é bastante séria e respeitada. Uma luta não só deste Sindicato, mas também da Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto) e de um conjunto de entidades que se pautam pela melhoria das condições de saúde e segurança dos trabalhadores. Esse é o resultado que queremos.