Rio de Janeiro: o que aprender após a tristeza?

Em todo o Brasil, cidadãos alinharam-se emocionalmente com a tragédia que aconteceu na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde 12 crianças faleceram e mais tantas outras foram vítimas de um atirador.

Confesso que o tema, com toda a tristeza e dor que nos imputa, me provocou uma estranha melancolia a cada nova informação atualizada pela grande imprensa. Em São Paulo, no Rio e em Brasília o sentimento foi único, e o Brasil entrou em luto oficial! Mas preocupa-me a prioridade dada ao debate da segurança em detrimento da necessária discussão sobre o que pode ser feito para evitar situações desta natureza. Sim, a discussão sobre o desarmamento e mais mecanismos de segurança é fundamental, mas não pode tirar o foco do cerne da questão: como estamos cuidando de nossas crianças e que adultos estamos inserindo na sociedade?

Não há palavras que racionalizem a tragédia que vimos. Mas o cenário o qual temos vivido tem apontado níveis desta violência em diferentes esferas sociais. Além disso, nossa sociedade tem revelado altos índices de desajuste social e, no ambiente escolar, há uma crescente. Pais cada vez mais sem tempo para participar da educação de seus filhos têm creditado à escola esta função, como um pedido de socorro.

Em 2007, escrevi um projeto de lei (441/2007) que tem como objetivo integrar às escolas um suporte profissional para os estudantes, que viabilize tanto o apoio quanto a orientação aos alunos e suas respectivas famílias, através da inserção de psicólogos e assistentes sociais vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Na época, em entrevistas à imprensa, inclusive à TV Alesp, manifestei meu receio com as constantes notícias sobre situações de tragédias – como a que ora vimos no Rio – em outros países e a preocupação de que cedo ou tarde poderiam chegar ao Brasil. Defendi o uso desta ferramenta no sentido de proteger nossos alunos e, diante do inevitável, dispormos de um recursso para minimizar seus reflexos. Com a presença destes profissionais na rede de ensino, capacitados no auxílio e no gerenciamento dos conflitos emocionais das crianças, apoiando o trabalho dos educadores, a promoção do diálogo com as famílias não seria uma ideia, mas um trabalho contínuo. Teríamos em uso o ferramental necessário para dectetar casos de risco, orientar familiares, promover os encaminhamentos adequados e, o principal, evitar a exposição das nossas crianças à agressividade humana.

Nada vai aplacar a dor que os as mães cariocas e, porque não, pais e mães de todo o Brasil, sentem neste momento. Mas renovo minhas esperanças para que tiremos desse triste acontecimento forças para levar a cabo esse importante debate. Não pensemos que a violência, com toda carga que a palavra carrega, é apenas o retrato do que aconteceu no Rio de Janeiro. Ela não tem apenas um rosto. E é, exatamente por isso, que precisamos proteger nossos filhos.