Eletropaulo é alvejada com reclamações durante audiência que discutiu apagões
Os apagões, que têm virado rotina na capital e nas cidades da região Metropolitana Oeste de São Paulo, não foram as únicas reclamações das centenas de pessoas que lotaram o auditório Paulo Kobayashi, na Assembleia Legislativa, na tarde desta quarta-feira, 10, durante audiência que debateu o fornecimento de energia elétrica.
Organizada pelos deputados estaduais petistas, Marcos Martins, Geraldo Cruz e Isac Reis, a audiência expôs as falhas dos serviços prestados pelas concessionárias que têm sido alvo de críticas nas últimas semanas, inclusive do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
Entre as principais reclamações abordadas pelos usuários estão a falta de manutenção na rede, a demora na poda de árvores – que danificam os cabos de energia -, a retirada de postes, que levam mais de um ano para serem removidos em obras públicas, e o alto valor cobrado aos consumidores pela retirada destes pilares que sustentam a rede, além da cobrança de tarifas elevadas, péssimo atendimento do ‘call center’ da empresa e a falta de informação sobre a Tarifa Social.
Tais reclamações chegaram ao órgão de proteção ao consumidor, foi o que revelou o diretor do Procon, Paulo Arthur Goés. Só no ano de 2010 foram 94 reclamações, 28 vezes a mais que o segundo colocado no ramo de fornecimento de energia elétrica, informou. A maior parte das reclamações estão relacionadas ao fornecimento de energia, acompanhada pela queima de
aparelhos danificados pelos apagões.
O prefeito de Embu das Artes e presidente do Conisud (Consórcio Intermunicipal da Região Sudoeste da Grande São Paulo), Chico Brito, convidado para debater o assunto, não poupou críticas aos trabalhos executados pela empresa. Em Embu das Artes as empresas têm medo de expandir suas atividades ou de se instalar na cidade pela falta de energia. Um pronto-socorro da cidade ficou três dias sem luz e tivemos que transferir os pacientes para outra unidade devido ao atraso no restabelecimento da energia. A remoção de postes para a realização de obras públicas na cidade levou mais de um ano, atrasando e encarecendo a construção. Consequentemente, a Eletropaulo é a campeã de reclamações no Procon da cidade, explicou o prefeito. E concluiu: cresce o lucro da empresa, mas também cresce a insatisfação da população e dos empresários.
O secretário de Serviços e Obras de Osasco, Waldyr Ribeiro Filho, acompanhou o posicionamento do prefeito Chico Brito e declarou que as obras de revitalização do centro da cidade estão paralisadas porque a Eletropaulo ainda não fez o rebaixamento dos cabos de energia conforme a Prefeitura tem solicitado.
Já o diretor de Energia da Asersp (Agência Reguladora de Energia de São Paulo), Aderbal Penteado Junior, saiu em defesa da Eletropaulo. Não sou inimigo das concessionárias e acho que eles não são os únicos responsáveis pelo problema de energia. Temos multado a empresa [AES Eletropaulo] nos casos de falhas. Preferiria, ao invés disso, que, com o dinheiro das multas a empresa fornecesse um serviço de qualidade ao seu consumidor.
O diretor executivo de Operações da Eletropaulo, Sidney Simonaggio, reconhece os problemas e diz que a empresa vai investir para tentar saná-los. Já investimos mais de R$ 4 bilhões desde que assumimos a administração da empresa. Vamos investir mais R$ 240 milhões na região [metropolitana] para a melhoria da rede e das subestações. Além disso, contratamos 580 funcionários que estão em treinamento para suprir a demanda, inclusive a de poda de árvores. Vamos modernizar o nosso ‘call center’ e preparar os nossos funcionários para melhorar o atendimento aos clientes, comprometeu-se.
Segundo o deputado estadual Isac Reis, muitas questões apontadas não foram esclarecidas. Não queremos respostas evasivas e sim soluções. Já estamos em contato com a ANEEL em Brasília e não ficaremos satisfeitos até que sejam realizadas providências para todas as queixas apresentadas. Nossa população merece respeito, finalizou Isac Reis.
Geraldo Cruz, não satisfeito com as explicações prestadas pelo representante da Eletropaulo na audiência, Sidney Simonaggio, diretor executivo de operações, já marcou reunião na ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, vinculada ao Ministério de Minas e Energia e responsável por fiscalizar e regular a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. Iremos a Brasília, no próximo dia 19, para nos reunirmos com a cúpula da ANEEL, juntamente com uma comissão de deputados da Alesp, para encaminhar as múltiplas reclamações efetuadas pela população, prefeituras, dirigentes comerciais e Procon contra os maus serviços prestados por essa concessionária (Eletropaulo) no Estado de São Paulo e pedir providências junto às autoridades responsáveis, afirmou Geraldo Cruz.
Para o deputado estadual Marcos Martins, a Eletropaulo deve fornecer energia com mais eficiência e serviços de melhor qualidade. O que se viu e ouviu durante a audiência foram reclamações das mais variadas sobre as falhas da Eletropaulo. É preciso que a empresa absorva as críticas e possa solucioná-las a curto e médio prazo. Até porque o lucro da empresa saltou de R$ 376 milhões, em 2006, para mais 1,3 bilhão, em 2010, e os investimentos por parte das empresas não seguiram a mesma tendência, disse. A população paulista e paulistana não podem arcar com tarifas altas e continuar sofrendo com os apagões diários, concluiu.
Participaram da audiência os deputados Enio Tato (líder da bancada do PT), Donisete Braga e Zico Prado.
Altos lucros da AES Eletropaulo
A falta de energia tem se tornado um grande problema na vida dos moradores da capital e da região metropolitana Oeste de São Paulo. De acordo com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o paulistano ficou em média 10h sem energia elétrica durante este ano. A população da Zona Sul é a que mais sofreu com os apagões, com cerca de 21h sem energia elétrica, somente no primeiro trimestre deste ano.
Já os moradores da região metropolitana ficaram, em média, 23h sem energia elétrica no mês de junho. O tempo recomendado pela Agência Reguladora é de no máximo 8h e 40 min.
Um apagão no dia 28 de junho atingiu sete bairros da região Oeste da Capital e mais de 10 bairros de Osasco, deixando sem luz mais cerca de três milhões de pessoas.
Na tarde do dia 09 de agosto, uma nova queda de energia: a falta de luz atingiu a região da Vila Mariana e Paraíso.
O secretário estadual de Energia, José Anibal, veio a público dizer que os lucros das empresas de energia elétrica paulistas são altíssimos (segundo ele, os da Eletropaulo passaram de R$ 376 milhões em 2006 para mais 1,3 bilhão em 2010), e que, em contrapartida, os investimentos por parte das empresas no setor foi baixo, o que tem gerado o sucateamento dos equipamentos e, consequentemente, péssima qualidade no serviço prestado. Para ele, a solução está na aplicação de multas elevadas às concessionárias de energia elétrica de São Paulo por parte da Aneel.
Vejas as fotos da audiência no link abaixo.