Amianto é utilizado em 78% das telhas de fibrocimento

São Paulo – A fatia da indústria de materiais de construção que utiliza ou utilizava amianto em sua produção – principalmente telhas, tubulações e caixas-d’água – vive realidades diferentes. Enquanto a Brasilit afirma estar em um processo de recuperação da perda de mercado por ter substituído o mineral na fabricação de seus produtos, a Eternit continua defendendo a utilização do amianto crisotila em sua linha de fabricação. Também chamado de asbesto, esse mineral é classificado como altamente cancerígeno e a batalha travada em alguns Estados brasileiros para sua abolição parece estar longe de acabar.

Isso porque a extração representa uma importante parte da economia extrativista em comparação ao mundo. De acordo com o Instituto Brasileiro do Crisotila, o País é o terceiro maior produtor mundial desse tipo de amianto, com 290 mil toneladas anuais. O primeiro do ranking é a Rússia (920 mil toneladas), seguido da China (360 mil toneladas). O relatório mostra que 98% do amianto consumido no Brasil é utilizado na produção de fibrocimento.

Uma pesquisa que corrobora a ampla utilização do mineral foi feita pela Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores dos Produtos de Fibrocimento (Abifibro). Segundo a entidade, 78% do fibrocimento produzido no Brasil contêm amianto. O mineral é proibido em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

No entanto, produtos que contêm o mineral ainda são comercializados. Um exemplo vem do interior de São Paulo, na cidade de Votuporanga (SP), onde mais de 2,5 mil telhas foram apreendidas durante fiscalização da Vigilância Sanitária do município em estabelecimentos que comercializam produtos que possam conter amianto em sua composição.

Roberto Luiz Corrêa Netto, diretor-geral da Brasilit, afirma que a empresa investiu R$ 100 milhões entre 1995 e 2003 no processo de substituição do amianto. “Essa decisão nos levou a uma perda de mercado e desde então temos tentado nos recuperar”, diz o empresário. Ele salienta que essa medida já foi tomada em diversos países da Europa

Netto afirma que a Brasilit atua da mesma forma que as empresas localizadas nos países da União Europeia, utiliza fios sintéticos de polipropileno, fato que encarece o custo de produção em até 8%. Porém, no Brasil, cerca de 250 milhões de metros quadrados de telhas ainda são produzidas com crisotila.

“Esse tipo de amianto é infinitamente menos tóxico que o utilizado na Europa, o chamado anfibólio”, afirma Élio A. Martins, presidente da Eternit. A empresa possui 31% da fatia do mercado brasileiro de telhas que contêm amianto. Segundo o executivo, apenas 8% da composição de uma telha da marca são de crisotila. Mais de 90% do produto corresponde a cimento, calcário, celulose e água. Ele garante que nenhum funcionário tem contato com o mineral, que é misturado ao cimento e à água através de máquinas e, assim, deixa de ser inalável, condição básica para que o mineral possa colocar em risco a saúde das pessoas.

Saúde em jogo
O presidente da Eternit defende o uso do amianto crisotila por acreditar que, uma vez que as normas de segurança são cumpridas, o perigo para a saúde é mantido sob controle. “No Brasil, os procedimentos são diferentes e mais seguros que os europeus.”

Ele marca sua posição ao apresentar dados da pesquisa “Exposição Ambiental ao Asbesto: Avaliação do Risco e Efeitos na Saúde”, conduzida por professores das universidades de São Paulo, Estadual de Campinas e Federal de São Paulo, “não há riscos à saúde da população por habitar casas cobertas com telhas de fibrocimento com amianto, nem à dos trabalhadores da mineração, que estão sujeitos a condições seguras de trabalho”.

O relatório do estudo indica, ainda, que a concentração ambiental intra e extradomiciliar de fibras de amianto, nos conglomerados estudados, se encontra dentro dos limites aceitáveis de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral, o consumo mundial de amianto é de 2,2 milhões de toneladas por ano, o Brasil é responsável por 110 mil toneladas anuais.

Fonte: DCI