Eternit sofre mais um processo e pode pagar R$1 bi por expor trabalhadores ao amianto
Após investigação feita pelo Ministério Público do Trabalho em fábrica do grupo Eternit em Guadalupe (zona norte do Rio de Janeiro), o órgão processou a empresa, que pode pagar multa de R$1 bi por expor seus trabalhadores a risco de contaminação por amianto. Esta matéria-prima, amplamente utilizada pela Eternit para produção de caixas dágua, telhas, entre outros, já foi considerada mortal e por isso já foi abolida em 66 países. O Brasil tarda a eliminar completamente o amianto, apesar dos esforços de entidades como o Ministério Público do Trabalho, Abrea (Associação Brasileira de Expostos ao Amianto) e de alguns parlamentares.
A decisão do Ministério do Trabalho é importantíssima para o avanço da luta contra o amianto no Brasil. O país como um todo precisa ser mais ágil no combate a esta fibra cancerígena que matou e mata milhares de nossos trabalhadores todos os anos. Lutei para acabar com o amianto em São Paulo, mas essa luta precisa crescer! É inadmissível que pessoas sejam vitimadas a custa da ganância de certos grupos que insistem em usar o amianto, reforçou o deputado estadual Marcos Martins, autor da lei que proíbe o uso e industrialização do amianto em São Paulo.
Em reportagem para o jornal Folha de S. Paulo, a procuradora Janine Mibratz Fiorot, que conduziu a ação na fábrica em Guadalupe, disse que encontrou na área de produção pessoas trabalhando sem máscara nem uniforme apropriado. Encontrou também pó do amianto no chão. Estas condições ferem a Lei 3.579/01, que obriga o uso de equipamentos de proteção individual e de vestimentas adequadas nos locais de trabalho em que sejam processados ou manufaturados materiais contendo amianto. A lei obriga também que a empresa forneça aos trabalhadores acesso a vestuários duplos com estrutura adequada ao banho.
Condenação – No próximo dia 4 a Justiça do Trabalho vai decidir em audiência se condena a fábrica Guadalupe. Este é o segundo processo do Ministério Público do Trabalho movido contra a Eternit. Em agosto do ano passado o MTB ajuizou ação pedindo R$1 bilhão à empresa pela contaminação de centenas de empregados da Eternit Osasco, fechada em 1993. Como o amianto causa doenças que podem se manifestar em até 30 anos, as empresas que trabalham com esta matéria-prima são responsáveis pela saúde de seus trabalhadores por todo esse período além de terem de cumprir obrigações como realização de exames periódicos, entre outros.
Brasil na contramão do banimento do amianto
Estudo realizado na Câmara dos Deputados em 2009 aponta que o setor amantífero brasileiro vem crescendo e mantém 17 fábricas distribuídas por 10 estados, empregando cerca de 10.000 trabalhadores além dos que servem direta ou indiretamente ao sistema da mina de Cana Brava, que gera cerca de 580 empregos diretos e 331 terceirizados.
São 66 os países que já proibiram o amianto e o Brasil não faz parte dessa lista. Aqui o amianto é proibido apenas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Minas Gerais. A jornalista Eliane Brum destaca alarmantes dados sobre o amianto no Brasil em seu artigo A maldição do amianto. Segundo seu texto, o Brasil hoje é o terceiro produtor mundial de amianto, terceiro exportador e terceiro usuário.
Os que conseguiram banir o amianto geralmente têm de enfrentar um forte lobby que defende a industrialização de artefatos com a matéria-prima visando apenas o lucro, já que a fibra é sabidamente cancerígena. Em São Paulo, o deputado estadual Marcos Martins, após enfrentar lobistas da indústria do amianto ainda quando era vereador e tentava proibir sua fabricação e uso, conseguiu banir o amianto apenas anos depois, quando deputado, por meio da lei 12.684/07, que proíbe o uso de produtos, materiais ou artefatos que contenham quaisquer tipos de amianto ou asbesto ou outros minerais que, acidentalmente, tenham fibras de amianto na sua composição.
Atualmente, o Ministério do Trabalho tenta emplacar em Santa Catarina campanhas para banir o amianto no estado. Nos cartazes produzidos para conscientizar a população sobre os perigos da substância vê-se a imagem de Aldo Vicentin, 66 anos, ex-secretário-geral da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), vítima de mesotelioma quando a fibra do amianto instala-se no pulmão, causando tumor maligno da pleura, membrana que reveste o órgão. Outra forma de manifestação da contaminação é a asbestose, conhecida como pulmão de pedra, que provoca enrijecimento do pulmão até comprometimento total da respiração da vítima.
Diversas campanhas têm sido feitas para tornar o combate ao amianto uma luta universal.
O amianto no mundo
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o amianto, ou asbesto, mata 100 mil trabalhadores anualmente. No Brasil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 1 milhão de pessoas podem estar em contato direto com a fibra.