A Faculdade de Medicina da USP está doente e precisa de tratamento
Os deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp-SP) aprovaram, na última semana, que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de violações de direitos humanos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) seja instalada ainda neste ano. Nas três audiências públicas realizadas na casa e promovidas pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia (CDH), presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), participaram diversas autoridades, estudantes, integrantes de diretórios, professores, promotores e coletivos feministas.
A CPI irá ocorrer após denúncias de estupro, abusos e mortes, que acontecem na recepção de calouros e em festas como o Show Medicina, da FMUSP. No entanto, professores e alunos entendem que os casos na Medicina são escandalosos, mas não os únicos, tendo semelhanças com atos praticados em outras faculdades. Por este motivo, a CPI terá poder de apurar denúncias com mesmo teor que tenham acontecido em qualquer universidade paulista, seja ela pública ou particular.
O professor de patologia Paulo Saldiva, presidente da comissão que investiga as denúncias de violações dos direitos humanos, disse que as ações praticadas pelos veteranos, principalmente os ligados à Atlética e ao Show Medicina, demonstram que a faculdade está doente e que precisa de ajuda externa para vencer essa doença. Segundo a professora e coordenadora do USP Diversidade para gênero, sexualidade e raça, Heloísa Buarque, a violência não pode ser mais aceita como brincadeira e, por isso, é necessário mudar esta cultura.
Para o deputado Marcos Martins, que participa das discussões sobre o assunto na Alesp, a violência contra a mulher é uma prática deplorável que não pode ser contemporizada ou esquecida. A estrutura criada ao redor desses mecanismos violentos intimida e, muitas vezes, as vítimas se calam. Tudo isso reflete uma grave deturpação de valores, que chega a criminalizar as próprias vítimas. Martins defende o funcionamento das delegacias de mulheres 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana e feriados. Sabemos que outros grupos sofrem todo tipo de violência e, por isso, não podemos nos calar, defende.
A criação da CPI dará mais segurança aos depoentes, já que permite denúncias anônimas e tem maior poder investigativo, pois pode convocar diversas pessoas para depor, incluindo aquelas que já ignoraram convites da Comissão de Direitos Humanos. O assunto é urgente e as tratativas para que a comissão seja instalada já estão em andamento, pois depende de acordo entre líderes. Práticas como as que se tornaram públicas na FMUSP são revoltantes e revelam uma patologia social que deve ser tratada com muita atenção.