Governo federal dá exemplo de transparência no socorro a São Paulo
Ao invés de assumir e encarar os fatos de frente, há quem prefira esconder a poeira embaixo do tapete, negar os acontecimentos e deixar a casa toda suja. É o caso do governo do estado de São Paulo em relação à maneira como vem lidando com a crise hídrica. Após passar o ano de 2014 inteiro repetindo que a água não faltaria para a população, sentimos hoje na pele o resultado catastrófico da falta de investimento na manutenção e ampliação dos sistemas de abastecimento. Enquanto isso, a Sabesp distribuía lucros “como água” aos acionistas.
Em janeiro, diante de necessidade legal, o governador tucano Geraldo Alckmin até ensaiou admitir, pela primeira vez, que São Paulo passa por um racionamento. Mas o soluço de transparência se desfez em seguida, quando ele se desmentiu.
Uma metrópole como São Paulo não pode ficar à mercê de São Pedro para ter seu abastecimento de água assegurado. E, sob este aspecto, o anúncio do socorro do governo federal é um exemplo de transparência e atitude republicana, sem olhar para divergências políticas ou partidárias.
Dados da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) apontam que, de 2009 até hoje, a Sabesp perdeu anualmente mais de 30% do volume produzido de água. Alguns estudos independentes chegam a falar em 35% de desperdício por vazamentos. Quase 1/3 da água que deveria chegar à população foi literalmente pelo ralo. É muita irresponsabilidade.
O fundo do poço para o governo do estado chegou e Alckmin adotou medidas desesperadas, como multar quem aumentar o consumo. A economia doméstica, neste momento, é fundamental, claro, mas apenas paliativa. A salvação é planejamento de longo prazo e investimento, o que só está sendo feito agora com apoio do Governo Federal. E com planilhas à mostra. Uma das principais obras que reforçará o sistema de abastecimento de São Paulo foi incluída pela presidente Dilma Rousseff no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O projeto consumirá R$ 830,5 milhões para integrar a bacia do Rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, ao sistema Cantareira, que hoje apresenta o nível mais crítico de água na região metropolitana. Assim, será construído um canal entre as represas Atibainha, em São Paulo, e o reservatório Jaguari, no Rio, para aumentar a disponibilidade no sistema paulista. A previsão é que aumente 5,1 metros cúbicos por segundo.
A presidente Dilma também assinou um convênio com o governador de São Paulo para a construção de um novo sistema de abastecimento para a região metropolitana da capital. O Sistema Produtor São Lourenço está orçado em R$ 2,6 bilhões e captará água no rio São Lourenço.
Com a ajuda do Governo Federal, pode ser que tenhamos água a longo prazo. No curto prazo, no entanto, só mesmo um milagre de São Pedro. Mas resta outra lição importante a se extrair dessa crise: o quanto nós, cidadãos, precisamos ficar atentos e cobrar transparência e responsabilidade do governo do Estado na condução dos gastos e das políticas públicas, seja no abastecimento ou qualquer outra área.