Ser caipira é uma lição de resistência

No dia 6 deste mês, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo prestou uma justa homenagem a 10 grupos, artistas e entidades que se destacam na promoção ou manutenção da cultura caipira de raiz. A entrega da segunda edição do prêmio Inezita Barroso não foi apenas a necessária lembrança do nome de Inezita, que tanto fez pelo sertanejo, mas o reconhecimento de um conjunto de personagens que são, por excelência, sinônimo de resistência e luta, mesmo com tantas adversidades, em um cenário muitas vezes injusto e opressor.

A lembrança da roça pode parecer eventualmente um quadro romântico, mas quem já trabalhou na enxada, debaixo do sol, ou no arado, no manejo da boiada e nas inúmeras atividades desenvolvidas por pequenos produtores familiares, sabe que tem que ter o “coro grosso”. Enfrentar a competição desleal de grandes empresas, muitas vezes sem nenhuma ajuda do Estado é um sinal de resistência; aguentar o sol no pescoço, queimando através das frestas no velho chapéu de palha diariamente, enquanto emprega toda sua energia no trabalho, é um sinal de resistência.

Tocar e cantar música caipira, lutando para preservar uma cultura regional e seus costumes, mesmo em um mundo dominado por grandes investimentos em produtos e práticas culturais, sociais e econômicas descartáveis, que invadem cada recanto do país, também é um sinal de resistência. Cada uma e cada um destes grupos, espaços, entidades ou personalidades têm na sua existência uma carga simbólica imensurável, digna de celebração.  Por este motivo é que em 2015 redigi o Projeto de Resolução que criava o Prêmio Inezita Barroso. Aprovado pela Assembleia em 2016, o prêmio passou a ser anual, garantindo assim que o legislativo paulista também cumpra importante papel na preservação da cultura caipira.

Aproveito ainda para dar os parabéns a todas as entidades, duplas, artistas ou grupos homenageados, em nome do Coral Sertanejo do Clube da Viola de Bauru. Estes votos se estendem a cada caipira, cada cumadre e cada cumpadre de todos os 645 municípios do nosso Estado, que permanecem como exemplo de resistência e luta, especialmente num momento de retirada de direitos, prisões arbitrárias, supressão da democracia e fragilidade de nossas instituições, que seguem seu projeto de concentração de capital, à custa da população mais pobre.

Marcos Martins