Mobilidade urbana exige adoção de novos sistemas de transporte público, diz CNI
Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os problemas de deslocamento dos moradores nas grandes cidades afetam diretamente a produtividade do trabalhador e a competitividade do setor produtivo. De acordo com o relatório Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala, divulgado na sexta-feira (31), a situação tem piorado no Brasil, entre 2003 e 2010, o tempo médio gasto pelo brasileiro em deslocamentos urbanos aumentou 20%.
Segundo o estudo da CNI, o crescimento demográfico no Brasil foi de 13% entre 2003 e 2010. No mesmo período, o número de veículos em circulação aumentou 66%. Conforme o estudo, a consequência é que cada morador das 12 metrópoles brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Belém, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre e Recife) gasta, em média, 1 hora e 4 minutos para fazer seus deslocamentos diários. Nas cidades médias, que têm entre 100 mil e 500 mil habitantes, o tempo gasto com locomoção é de 31 minutos.
A solução para o problema pode estar na adoção de modais como o BRT, o VLT e monotrilho. O primeiro deles, Bus Rapid Transit, refere-se a um sistema de ônibus com faixa exclusiva, no qual a tarifa é paga antes do embarque, ainda na estação.
A segunda sigla Veículo Leve sobre Trilhos é usada para uma versão moderna dos antigos bondes. Para situações onde há menos espaços na superfície, a solução pode estar alguns metros acima do solo: o monotrilho, sistema de transporte que, em geral, é feito sobre vigas.
A escolha do sistema ideal depende de fatores como o tamanho da demanda e as condições da cidade, disse José Roberto Bernasconi, diretor do Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), que representa empresas do setor. O veículo com maior capacidade de transporte é o metrô, que consegue transportar 80 mil passageiros por hora. O problema é o alto custo de construção e as dificuldades de implementá-lo em cidades já constituídas, ressaltou Bernasconi.
Ele destacou que, para boa parte das cidades brasileiras, o transporte de superfície mais eficiente é o BRT. Segundo Bernasconi, apesar de ter menor capacidade 30 mil passageiros por hora em cada sentido , o BRT é um sistema muito eficiente “e com metodologia totalmente brasileira. O sistema foi implantado pela primeira vez em Curitiba e, atualmente, é usado em diversos países da Europa , Ásia e Américas.
Já o VLT tem capacidade para transportar 40 mil passageiros por hora em cada sentido. Do ponto de vista ecológico, este bonde moderno é o melhor sistema de transporte. Além de ser agradável de andar, é bastante silencioso. Isso ajuda a evitar, também, a poluição sonora, muito comum em ambientes urbanos, explicou o especialista.
Para localidades onde não haja espaço na superfície, o mais indicado é o monotrilho. Quem já foi a Miami ou à Disneylândia conhece bem este sistema. É como se fosse um VLT, só que elevado [por vigas]. É um transporte caro, e há questionamentos quanto aos efeitos que ele causa na paisagem. Mas há também muita gente que o acha bonito. O monotrilho tem capacidade para transportar 50 mil passageiros por hora em cada sentido.
De acordo com Bernasconi, o monotrilho tem também suas vantagens. Além de poder atingir mais velocidade em áreas complicadas, permite um passeio bonito, com paisagens vistas do alto. Isso ajuda a criar, no cidadão, o hábito de querer usar o transporte público [e deixar o carro na garagem].
Ainda que ter carro seja um direito, é por causa deste tipo de veículo que as cidades estão com pessoas cada vez mais aborrecidas por causa de trânsito. O problema é que não há, no Brasil, uma cultura de uso do transporte público, a exemplo do que acontece em vários países europeus. Lá, é hábito usar veículos particulares apenas nos finais de semana, geralmente para pegar rodovias. Somado a isso, há o fato de, por aqui, carro estar associado a status, acrescentou Bernasconi.