Artigo: O que nos revela a disputa mais acirrada da democracia brasileira
O período eleitoral se passou e o que vimos foi uma das disputas para presidente da República mais acirradas desde a redemocratização do nosso país. A diferença de votos entre a presidenta reeleita e o candidato da oposição, no segundo turno, foi a menor do ciclo histórico dos últimos 24 anos. Certamente, a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, carrega consigo os méritos de seu governo, bem como de seu antecessor, o presidente Lula. Mas o que chama atenção na mirrada margem que separou os dois candidatos é que Dilma terá de construir em uma ponte de diálogo com os insatisfeitos para reunificar o país.
A pequena diferença apresentada nas pesquisas e contabilizada nas urnas serviu de combustível para instigar indivíduos inflamados que proferiram acusações nas ruas e redes sociais, muitas vezes de forma agressiva e preconceituosa, no intuito de defender determinada posição política. O clima em alguns momentos se assemelhou ao de uma partida de futebol, como se a vitória de um fosse a derrota do outro, fazendo esquecer que o que esteve em jogo foi a construção de um projeto de nação, onde podem e devem participar todos os brasileiros.
É nesse sentido que devemos escutar com muita atenção ao primeiro discurso proferido pela presidenta depois do resultado da apuração, quando disse que está aberta ao diálogo e que esta será sua primeira meta quando voltar ao planalto, além de convocar o povo a se unir em busca de um futuro melhor para o país. Este diálogo se torna cada vez mais importante, principalmente entre os parlamentares e a população, os movimentos sociais e entidades representativas.
Por outro lado, os mais de 20 milhões de votos brancos, nulos e abstenções nos revelam um crescente desinteresse de boa parte da população com a coisa pública. Precisamos, mais do que nunca, resgatar o interesse e a participação política, convocar a população a se envolver nos debates e projetos nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, no Senado e na Câmara dos Deputados, pois estas são casas do povo. Esta deve ser uma via de duas mãos: os cidadãos podem e devem participar da elaboração de projetos e da tomada de decisão e os parlamentares, em todas as esferas do poder, devem se colocar à disposição, agora mais do que nunca, para escutá-las e se possível atendê-las, ou minimamente encaminhá-las para uma solução.
Não devem se sentir derrotados os eleitores cujos candidatos não obtiveram a maioria dos votos. Devem sim cobrar melhorias e participar ativamente das discussões com aqueles que ocupam cargos representativos, pois estes são representantes legítimos de toda a sociedade e não apenas dos seus eleitores. Desta maneira todos sairão vitoriosos.
* Marcos Martins é deputado estadual pelo PT no segundo mandato, reeleito em 2014 com 83 mil votos.